Visitar banner
Visitar banner

“Estou a usar o lenço para mostrar o orgulho que sinto das mulheres da nossa terra”, disse Lurdes, enquanto aguardava a passagem do desfile da mordomia, da Romaria d'Agonia, em Viana do Castelo. As mulheres, claramente as rainhas da romaria desfilavam e deixavam a admiração impregnada nos corações das outras mulheres vindas de outros pontos do país.

Isa Santos e Constância vieram de Olhão. A neta vive na cidade e a avó veio pela primeira vez “ver a festa” e estava encantada por “ser muito diferente do Algarve”. As lutas também eram diferentes no seu tempo, mas “difíceis”. A mulher do Alto Minho era “mais trabalhadora” enquanto as do Algarve se “dedicavam ao cuidar da família”, considerou a mulher de 87 anos. “Eramos mulheres diferentes”, conclui. E quem é mais bonita? A Mulher de Viana ou as do Algarve? Ela não tem dúvidas que há concorrência desleal: “com estes trajes lindíssimos qualquer mulher fica bonita”, disse, sorrindo, em resposta à provocação.

Os trajes e os ouros deixaram Maria Rosa e Antónia, vindas de Lisboa apaixonadas. “Bem diferente do resto do país”, disseram em uníssono. Aprenderam em Viana uma palavra nova: “chieira” e isso sentiu-se bem nas mulheres que viram desfilar. Talvez por isso, Luísa Pimenta, de 76 anos, que acompanhava o grupo já estava a usar um lenço tradicional. “Estou toda enfeitada”, disse revelando a alegria de estar com o espírito das mulheres do Alto Minho. Foi preciso 76 anos para vir cá, mas para o ano volto de certeza”, assegurou, demonstrando ter sido conquistada pelas mordomas.

Quem veio há 35 anos para Viana do Castelo, vinda de Lamego, era Luísa Domingues que se sentiu identificada com a cidade e as suas tradições “desde o momento que chegou”. Vestida a rigor dizia-se “muito honrada” de trajar à vianesa. “A mulher vianesa é linda, esplendorosa e é uma mulher cheia de vontade e de garra”, justificou, assim, o seu orgulho.

Ser mordoma e desfilar com a sua beleza pelas ruas da cidade é o desejo de muitas mulheres: Nem que seja por uma vez. Há algo na feminilidade da mordoma que é inexplicável. Maria Pereira ultimava os pormenores do traje “para ficar bem bonita e a mãe se babar” disse rindo. Ao peito trazia ouro dos avós. Uma homenagem que deixaria os seus antecessores orgulhosos. Assim como estava a sua mãe, Helena Pereira. São de Ponte da Barca, mas estão emigradas em França, onde pertencem a um grupo folclórico em Lion. Por isso as tradições dizem-lhes muito, mas pessoalmente a mãe olhando para a filha valorizou outra perspetiva: “gostava que fosse uma guerreira como as mulheres do passado foram”.

Quem também “afeitava” a filha era Rosa de Jesus. “Ela vem desde pequenina”, confessou. A filha, Cristiana, de 29 anos, acenou com a cabeça em sinal de concordância. “Esta é uma festa de homenagem à mulher e sinto-me feliz por isso”, considerou garantindo que quando tiver uma filha “ela vai usar o traje”.

Mas a força e a vivência de luta das mulheres do passado não se remetiam apenas às do campo. Na Ribeira a mulher vianesa também construiu a sua identidade. “Era uma mulher muito forte. Os homens iam para o mar e elas cuidavam de tudo, desde a casa, os filhos ou mesmo das redes e de vender o peixe”, relembrou a D. Lurdes, mulher de pescador, que com 61 anos, vestia a rigor o traje da ribeira. “Somos um pouco esquecidas na romaria, mas fazemos parte do crescimento de Viana”, disse, claramente assumindo o seu bairrismo.

Mas a Santa que se venera, é delas e dos pescadores. A Senhora da Agonia, “a mãe” e também ela mulher. Venerada em procissão por terra e mar, com amor, lágrimas e sal nas ruas da ribeira, por onde os pescadores estendem um tapete para a sua passagem.

Há, pois, nestas festas vianenses, um lugar insubstituível do feminino. Será caso para suspirar: “Ai estas mulheres afeitadas que encantam as outras à sua passagem”.Img 6785

PARTILHAR: