Visitar banner
Visitar banner

Foi construído há 40 anos a título provisório. O mercado de Caminha sofreu um longo processo na definição do seu destino. Na semana passada foi inaugurado o novo edifício. Os comerciantes e pescadores agradeceram e Rui Lages, presidente da Câmara, agradeceu a paciência destes.

“Estou muito contente e feliz porque vamos ter um espaço para poder trabalhar mais à vontade”, disse Celeste Mendonça que há 36 anos está no mercado, mas que, nos últimos tempos, tem servido os clientes nos contentores que albergaram, temporariamente, os comerciantes até que a obra do novo mercado estivesse concluída. “Isto dos contentores foi bom, pois permitiu continuar a trabalhar, mas é muito mais desgastante trabalhar dentro de um espaço reduzido com quatro pessoas” para além de não terem câmaras frigoríficas e verem o maior gato de gelo para manter os produtos. “Mas foi melhor que estar parada", ressalvou enquanto metia o pescado no saco para a cliente que aguardava.

“Estávamos à espera há muito. Queríamos mudar para uma coisa melhor e isto faz muita falta ao concelho de Caminha”, disse por seu turno, a costureira, Luciana Gonçalves. “Demoraram bastante tempo. São obras públicas”, desabafou. Agora o futuro poderá ser melhor que estar num contentor se tiverem condições. “O espaço lá também é pequeno. Vamos ver.”.

Feliz pela abertura do novo mercado estava, também, José Costa, que há cinco se dedica, ali, à venda de hortícolas e fruta. “Peca por atrasado. Foi muito difícil trabalhar nestas condições”, revelou. “Estava prevista uma obra de seis meses e levou mais de dois anos. Para quem trabalha em frutas e legumes, com mais de 50 variedades, foi um autêntico jogo de tetris ter tudo aqui durante esse tempo”, lamentou, reconhecendo, no entanto, a importância da obra: “O outro estava obsoleto”.

Agora José Costa espera ter mais gente a visitar o mercado e, para isso, deixa mesmo uma sugestão: “Era até importante que aqueles, que à quarta-feira, fazem o mercado dos agricultores o fizessem aqui cá fora para estarem perto, pois senão, uns num ponto e outros noutro faz com que as pessoas acabem por se dispersar”.

A abertura do novo mercado municipal foi um momento em que, para o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages, se “fez história”. O autarca relembrou que “durante décadas” o concelho foi servido por “um mercado que, no seu tempo, serviu bem a comunidade local de pescadores e de comerciantes”, mas que, com o passar de anos, “se tornou obsoleto, insalubre e sem as mínimas condições de trabalho”.

Foi “um processo moroso em que todos sentíamos a necessidade, premente, de ter um mercado, mais digno, para mostrar os bons produtos frescos da nossa terra”, recordou, salientando que a demora se agravou por se ter iniciado “a construção no pior período possível”. Isto porque se viria a registar a pandemia do Covid-19 na altura em que se iniciou a demolição do antigo edifício e, depois, a guerra na Ucrânia que, para além de inflacionar preços, provocou a “ausência de disponibilização de bens e mercadorias que contribuiu para o atraso”. Por tal, o autarca agradeceu a paciência dos homens do mar e dos comerciantes.

Rui Lages referiu que a obra foi “muito escrutinada e criticada” pela positiva e negativa. “É normal que surjam várias visões do como é e o como deveria de ser. A verdade é que temos aqui uma obra de arte que pode ser contemplada e interpretada. Uma obra que pode ser vivida e fluida pela nossa população”, enfatizou o edil. Recorde-se que o processo foi iniciado pelo antigo presidente da Câmara, Miguel Alves que, esteve presente na cerimónia de inauguração e recebeu uma longa ovação.

Projetado para o futuro, o novo mercado é, na visão de Rui Lages, “uma janela aberta virada para o Rio Minho e para o coração da Vila de Caminha”, pelo que quer que o “equipamento possa ser vivido e desfrutado” por todos. “Quero que nos possamos orgulhar de um mercado de última geração, com equipamentos novos, com mais vendedores, com mais animação, com mais dinâmica e, acima de tudo, que possa ser uma nova centralidade para a Vila de Caminha e para o concelho de Caminha”, disse ainda.

Augusto Porto, Presidente da Associação de Profissionais de Pesca do Rio Minho e do Mar, alinhou na visão do autarca ao referir que tanto os locais ou os visitantes “têm um local com dignidade para poder comprar, passear, conviver com o melhor” que a terra e o mar de Caminha têm.

Por seu turno Miguel Gonçalves, Presidente da União de Freguesias de Caminha e Vilarelho, dirigindo-se ao Presidente da Câmara salientou que “há algumas pessoas que veem tudo pela negativa, nada lhes parece bem, tudo está mal. Há 500 anos, Camões já os retratou na figura do Velho do Restelo. Mas quero-lhe dizer que onde outros só vêem Adamastores, nós vemos o Cabo da Boa Esperança”, pois o novo mercado é a alavanca que projetará Caminha e a sua atividade económica. Será, sem dúvida, a nossa boa esperança para um futuro promissor”.

A coligação o “Concelho em Primeiro” emitiu uma nota nas redes sociais, na qual deseja que “tudo corra pelo melhor e que na medida do possível possa ser um espaço de usufruto para todos”. No entanto, e analisando a “linha do tempo” a oposição relembra que “havia um projeto para um novo mercado devidamente enquadrado na recuperação de toda a marginal de Caminha, após um concurso internacional, ganho pelo arquiteto Calapez” o qual “deitaram ao lixo”. Por outro lado, refere a nota, “o ex-presidente da Câmara Municipal de Caminha (n.r. Miguel Alves) passou muito tempo a dizer a todos que não se construía o mercado porque aquela zona estava com direito de superfície”, mas “afinal era e foi possível construir” sendo que a prova é que já existe o mercado novo.

“Após isso lançou-se um concurso de ideias e puseram a população a votar para o projeto do mercado. A população votou. Mas depois entregaram a outro arquiteto o projeto - por mais de 60 mil euros - e deitaram ao lixo o projeto do arquiteto Calapez e o escolhido pelas pessoas”, criticou ainda a coligação.

Já o Bloco de Esquerda enviou um comunicado às redações onde se refere à “falta de vergonha” que “caracteriza os desavergonhados e é precisamente esta ausência de princípios que define os sucessivos e intercalados executivos municipais”.

O BE salienta que não se está a falar de “duas ou três promessas eleitorais nem de meia-dúzia de anos, mas de quatro décadas de falsidades, de promessas vãs”, que, ora o PS, ora o PSD, “nunca cumpriram”.

O partido “congratula-se, obviamente, pelo ponto final nas promessas e das fintas, pelo menos quanto à obra do mercado, mas não se orgulha de ter dirigentes dos dois habituais partidos na governação (PS e PSD), tão pródigos na criação de ilusões e infidelidades aos caminhenses”.

Da mesma forma, o BE não esquece a “fraude que constituiu a votação participativa dos caminhenses nos projetos apresentados”. Foi “mais uma grandiloquente fantasia de um alegado grande exemplo de democracia e os caminhenses votaram, crédulos de que a sua escolha seria realmente considerada, votando no projeto que mais gostaram, e o projeto que venceu acabou no lixo e a escolha dos caminhenses acabou no lixo e o respeito pelas pessoas foi também parar ao lixo. Mais uma batotice”, conclui o comunicado.

O novo mercado

- Quatro lojas viradas a sul,

- 12 bancas para venda de peixe, fruta e legumes,

- Zonas de cargas e descargas,

- Armazéns de frio

- Viveiro

- 600 mil euros de investimento

PARTILHAR: