Para além do folclore das pequenas vaidades - e das manifestações bizarras e de gosto duvidoso - que assumem as profissões de fé nas aldeias, assistir a uma é uma experiência imperdível.
E foi ali, assim, depois de ouvir a mãe de uma daquelas princesitas que me pus a pensar nos pecados no feminino. Dizia a senhora, a uma outra, que aquela princesa engalanada não tinha ficado nada nervosa nem com o vestido, nem com os sapatos, nem, pasme-se, com aquele entrançado de flores caríssimo que levou horas a fazer na melhor cabeleireira da vila! O que lhe moeu o espírito - e lhe levou horas de sono - foi ter descoberto que tinha de confessar-se não ao padre da freguesia, mas a um outro vindo sabe-se lá de onde. E citando-a disse “como é que eu vou confessar os meus pecados a uma pessoa que nunca vi na vida?”. A outra acenava com a cabeça freneticamente mais deslumbrada com a mente brilhante da criança, do que com aquele vestido de armação em tule que ela envergava…
Isto pôs-me a pensar que, ao contrário do que estava ali a ser falado, a verdade é que nenhuma de nós, três adultas, hesitaria em escolher um padre estranho e de uma freguesia muito longínqua na hora de revelar os nossos piores pecados!
E foi assim que percebi a admiração da ouvinte, da mãe - e da minha também - por aquela princesinha engalanada.
Ela passou por nós, logo a seguir e fez aquele aceno ensaiado pelos fotógrafos das aldeias e eu dei comigo a pensar que, à medida que crescemos, vamos fechando os nossos pecados aos conhecidos. E acenei-lhe também.