Devido ao meu hábito de vasculhar coisas do passado, especialmente no que diz respeito a assuntos que ainda se mantém na berlinda, resolvi escolher este título baseando-me num podcast dirigido por Daniel Oliveira, em 2018, ao qual no âmbito do seu programa “Perguntar não ofende”, tinha como convidada especial a Jornalista Fernanda Câncio. Essa conversa destrinçava a possibilidade de o feminismo estar a ficar puritano, tendo em conta, as polémicas e as reivindicações da altura, que entoavam contundentemente através da opinião pública. Ao debruçar-me sobre as questões colocadas, e os argumentos arrazoados pela entrevistada, veio á baila, problemas endémicos, difíceis de dirimir, como a diferença de ordenados entre o homem e a mulher, o assédio sexual, e os escândalos de sedução forçada em Hollywood, as inúmeras mortes de mulheres por violência doméstica, o surgimento do movimento “me too”, que de modo tenaz e implacável, pugne pelos direitos feministas, além da introdução de quotas, para entrada de mais mulheres, no seio do poder político, para permitir um maior equilíbrio. Isto tudo temas, que se discutem nas espumas dos dias, lembrando-me inclusive da caricata e entediante novela informativa, assente no disparatado beijo de Rubiales.
Em face desta ecologia, justifica-se o feminismo ser puritano? Atualmente sim, pois surtiu efeitos em alguns casos, desde 2018, até aos dias de hoje, já se equacionando a propósito disso, no seio da igreja católica (dum modo ainda tíbio), a hipótese das mulheres serem ordenadas sacerdotes, contrariando os dogmas acirrados da instituição, não parecendo nada escandaloso, pois grande parte dos catequistas, que transmitem a palavra de Deus, pertencem ao sexo feminino.
No que concerne, ao futuro, vale a pena o feminismo continuar a ser puritano? No meu ponto de vista, cada vez mais, pelas mutações e tendências estruturais, ao qual o mundo se sujeita, por constâncias diversas, imbuído num processo que se vai concretizando paulatinamente, ao qual eu distingo, dois aspetos essenciais, sendo que o primeiro, por razões tradicionais, não se salienta como tão nocivo, como o segundo vetor.
A primeira característica, que denoto, prende-se com propensão misógina de certos fenómenos populistas de extrema-direita, que grassam pelo mundo inteiro, constatando-se como exemplo mais eloquente, a revogação da aplicação da lei do Aborto, decretado pelo Supremo Tribunal dos EUA. Constituído maioritariamente por juristas, nomeados por Donald Trump, essa decisão reflete-se como uma prova evidente, que estas conceções ideológicas similares em determinados parâmetros aos vetustos regimes fascistas, podem sorrateiramente encetar leis que condicionem de forma latente, conquistas justamente alcançadas pelas mulheres, principalmente, prejudicando aquelas que menos recursos financeiros detêm.
O segundo fator, que no campo das hipóteses pode causar embaraços significativos á luta e a manutenção dos direitos feministas, está inteiramente ligado ao nosso declínio demográfico, que por sinal é transversal a toda a europa, que por força das circunstâncias, tende a agravar-se. Quem me chamou a atenção, para esta situação gritante, foi um padre duma paróquia ao qual me insiro, no preciso momento que tencionava batizar o meu filho, em 2009. Ele como uma descarte lacónica, comentou que os valores católicos, que gizam os nossos modos de vida, podiam estar em perigo, daqui a 50 anos, devido á queda abrupta da natalidade, intuindo uma entrada de imensos muçulmanos, para o nosso território. Assim sendo ao atingirem uma percentagem claramente maioritária, aos poucos vão impondo a sua cultura, ancorados pela tentação de remeter a mulher para um plano degenerativo, completamente dependente do homem. Passado 14 anos, olho para o panorama, da minha cidade, e assisto incrédulo á turbamulta de Paquistaneses, Sírios, Afegãos, Marroquinos, etc, que por cá vagueiam, não augurando nada de bom, para o feminismo, associado às gerações vindouras.