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Gabriela Castro chega ao Analista para escrever de mulher para mulheres e sobre mulheres. O livre pensamento pode ser lido todas as semanas a partir de hoje.

Contra Mim Falo (I)

Até eu, que nunca fui uma aluna exuberante a geometria, percebi, quando me explicaram, que tudo se resume a perspetivar a nossa vida como um segmento de reta. Basta depois analisar no seu esboço: as linhas que se permitiu traçar, as que deixou que traçassem e, finalmente, as que a vida se encarregou de traçar.

E foi, assim, que me apercebi das linhas paralelas. Vi nelas todas as almas paralelas da minha vida: aqueles aptos a completarem as minhas frases, os a quem o meu silêncio chegou a angustiar e que riram sempre comigo e nunca de mim.

Conclui ali que tal como eu nunca as linhas paralelas fizeram sucumbir as mulheres, daí que, o seu traçado continue tão ténue. E foi assim que percebi que as mulheres gostam, mesmo, e querem, é linhas perpendiculares que lhes cortem a alma e o coração… as linhas perpendiculares abrangem os conjuntos daqueles que nunca completaram as suas frases, a quem o seu silêncio nunca verdadeiramente incomodou e que quando riram - com elas - se riram delas também.

Alguém me explica porque que é que as mulheres não nasceram já munidas de régua e transferidor?

Porque é que nunca ninguém nos explicou que na geometria, tal como na vida, o ângulo negativo é o implantado no sentido contrário aos dos ponteiros do relógio?

Porque é que nunca nos falaram na geometria dos afetos?

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